Resumo: Artigo 36351
A energia nuclear no Brasil e a polêmica sobre as usinas de Angra (9,27,14,70)
Silvania Do Nascimento, Universidade Federal de Minas Gerais, BrazilMaria José de Almeida, Thirza Sorpreso, Universidade Estadual de Campinas, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 212 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 54 - Chair: Debatedor a Confirmar
Abstract.
Aspectos das relações entre a Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA) têm sido considerados em diferentes espaços educativos. Pesquisas sobre tais relações têm mostrado que a presença de controvérsias no campo CTSA, nas mídias, aparentemente influenciam as práticas de sala de aula. A Comissão Nacional de Energia Nuclear comemorou, em 2006, meio século de existência. O livro A Opção Nuclear, 50 anos rumo à autonomia, reconstitui parte desse percurso e nos motivou a analisar dois momentos de debate da questão nuclear no Brasil, que entre outros temas propícios à discussão das relações de CTSA, tem ocupado grande espaço na mídia. Focalizaremos a polêmica sobre a instalação das usinas nucleares de Angra, no Rio de Janeiro. O primeiro momento resgata as discussões dos anos 1970 e 1980 e o segundo, mais rescente, é de 2007. Nosso objetivo é não exaustivo, portanto selecionamos, aleatoriamente, alguns documentos de mídia escrita que circularam nesses dois momentos. Nossa análise tem como elementos básicos as noções de condições de produção, imaginário social e ideologia, como são pensados na vertente da Análise de Discurso originada na França com Michel Pêcheaux. Essa vertente tem contribuído amplamente para a análise do funcionamento de condições de produção do ensino e tem servido para a análise de situações no grupo a que pertencem as autoras deste trabalho. Eni Orlandi, uma das difusoras dessa vertente no Brasil, considera como determinantes as condições de produção; suas constituições a partir de uma dada memória discursiva e, finalmente sua circulação que estabelece a interlocução do texto nas relações com os interlocutores. Assim, essas relações influenciam o que é dito e não dito. Dessa forma, para nossa análise é importante investigar as condições de produção de cada conjunto de textos selecionados e buscar compreender quais as relações que aparentemente eles visam estabelecer com seus possíveis interlocutores. O conjunto dos anos 70-80 está inserido no contexto político da ditadura militar brasileira e foi elaborado por cientistas. Em geral, esse discurso visa discutir as questões de segurança dos reatores. Três dos textos analisados foram produzidos pela Sociedade Brasileira de Física, e aparentemente dialogam com a comunidade de seus associados. Uma separata o boletim informativo - número 96 de dezembro de 1983- de FURNAS, companhia de energia mineira, reproduz parte de um artigo publicado pela revista Ciência Hoje da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência que explica porque uma usina nucelar não pode explodir. Esse é o momento histórico da instalação de Angra 1 e do chamado milagre brasileiro. No segundo conjunto, jornalistas em colunas assinadas, renovam a discussão, no contexto da ampliação da matriz energética brasileira e da construção da usina Angra 3. Os textos selecionados foram publicados em três jornais de circulação nacional: A Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e Valor Econômico de 03 de janeiro a 15 de julho de 2007. As matérias estão distribuídas em diferentes cadernos: Brasil, Cotidiano, Economia, Opinião...O que já parece indicar uma diversidade de horizontes discursivos presente na abordagem jornalística dessa temática sócio-científico-ambiental. O contexto político nacional nesse momento é da democracia participativa, a discussão política é em torno do chamado Pacto de Aceleração Econômico, e a polêmica se instala em torno do aquecimento global. Nosso interesse é procurar explicitar as condições de produção, formulação e circulação desses discursos, identificar elementos da ideologia de cada um dos conjuntos e buscar as convergências e divergências predominantes. No ensino escolar a relevância dessas análises está nas possibilidades que os discursos produzidos nessas condições sócio-históricas têm para nos auxiliar na compreensão do imaginário social dos estudantes e professores.